Resolveu procurar nos livros. "Eu devo estar em algum deles". Correu todas as bibliotecas do mundo. Achava pedaços. Os braços, as pernas, as mãos geladas. A pele, amarelada de tanto pensar. A boca incansável, que falava demais. O fígado, que já não era mais jovem. O estômago, exigente. Os olhos que não piscavam. O nariz, a que nada passava despercebido. Os cabelos secos e os pés cansados.
Foi catando a si mesmo nas páginas roídas.
Não encontrou os ouvidos. Esses, ninguém escreveu ainda.
Por onde andava, então, as partes se soltavam e as palavras latejavam quando caíam.
Não era bem costurado.
Ele não sabia de alinhavo.
Um ou outro tropeçava nas frases que ele, displiscente, deixava cair no asfalto escuro.
Nunca voltava pra resgatá-las. Na maioria das vezes, nem percebia que tinham caído.
Assim, de pouco em pouco, ele se perdeu, de novo.
Viu mil e um filmes. Os olhos arderam de tanta pesquisa. Nada.
Nenhuma música o fez dançar. Nenhuma. Nada.
Se entorpeceu de diversas formas. Descobriu os piores venenos. Nada.
Se cansou.
Desfaleceu no chão, ensopando a sala com água salgada.
Quando se afogou, abandonado pelo lado de fora, o medo o obrigou a fechar o olhos. Nunca o tinha feito.
Desde então, anda, ele mesmo, construindo suas metades.
Criou ouvidos pra voar. E vôa.
Escolhe as palavras que liberta, e ninguém mais tropeça nelas.
Pisca e se enxerga. Decide e anda.
Ele era inquieto. Morria de medo de ser injusto.
Encontrou a justiça na coerência.
Hoje, dorme feito uma pedra.
Acorda e vai tomar sol.
isso é comum no mundo contemporâneo?
ResponderExcluirgostei demaisssssss!!!!!!
ResponderExcluirErick,
ResponderExcluiro começo, muito.
o fim, menos.
então deve ser por isso que existe arte.
ResponderExcluirUm brinde as pessoas que se encontram dentro de si mesmas!
ResponderExcluirsorte minha ter pessoas como você na minha vida.
Paulo Maciel